domingo, 11 de outubro de 2009

O bom senso e o senso comum

Os termos “bom senso” e “senso comum” são quase sinônimos para muitos pensadores. Descartes, no Discurso do Método, afirma que “a capacidade de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso que é propriamente o que denominamos bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens”. No entanto, vejo uma clara distinção de significado na aplicação prática dos termos.

Me desculpem os filósofos, mas, para mim, senso comum é o que se aprende “na rua” e bom senso é o que se aprende em casa. Nesta perspectiva, o senso comum pode ser construído e mesmo conduzido por ideias sugeridas pela mídia, por formadores de opinião, pela escola, enfim, pelos que têm influência sobre as massas. O bom senso, por sua vez, é transmitido de pai (e/ou mãe) para filho.

Aprendi em casa que nem tudo que é comum é normal. Quando ainda era adolescente, minha mãe sempre me dizia que não era a hora de “pegar o carro”, mesmo com a minha demorada argumentação de que todos os colegas do colégio já dirigiam. Foi por estes e outros ensinamentos que aprendi a dar o troco certo, esperar minha vez na fila, desligar o celular em reuniões, cinema, igreja, biblioteca, sala de aula... Enfim, mesmo que todos ao meu redor façam o contrário, para mim, essas regras ainda valem.

Ora, não é tão difícil entender que o telefone da empresa é pra ser usado nas necessidades do trabalho. Que a vaga destinada a portadores de necessidades especiais não pode ser ocupada senão pelos próprios. Isso vale tanto para as pequenas coisas quanto para as grandes: passagens aéreas e diárias destinadas a viagens profissionais, verba indenizatória por despesas em serviço e tantas outras situações.

Por mais que as novelas, as notícias, as propagandas e “todos ao redor” tentem nos convencer diariamente que tudo é permitido em nome da satisfação pessoal (mentir, trair, roubar e outras atrocidades), precisamos alterar esta cultura. Há de se investir muito na construção educacional e na divulgação do que realmente é de bom senso. E isto é feito não só em casa e na família, mas nas instituições sociais coletivas, como escolas e universidades. Tirando assim a incumbência de que a nossa visão daquilo que é importante seja ditada e sociabilizada no horário nobre da televisão.

Artigo publicado no Diário da Manhã no dia 30/04/09: http://www.dm.com.br/materias/show/t/o_bom_senso_e_o_senso_comum

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